E nós o que somos?...

Em entrevista realizada pelo site Comunique-se, com o jornalista Boris Casoy, sobre sua saída da emissora Record e se ela havia tido alguma relação com pressões feitas pelo governo Lula, Casoy respondeu a um estudante, o que achava sobre o jornalismo brasileiro ser um “show” e como este poderia ser um instrumento de informação pública e não apenas uma ferramenta regida pelo interesse do público.

Em meio a sua resposta o jornalista disse: “Hoje a emoção pesa muito mais”. Sendo assim, paremos de fazer o jornalismo baseado na Escola Americana e voltemos a ao “nariz de cera”, nos impressos. E ainda voltemos com as narrações da notícia de Rádio, intercaladas de radionovelas. Toda notícia possui uma emoção em si, quer seja agradável ou não. Se o grande problema do jornalismo é a falta de emoção ao tratar-se desta ou daquela notícia, então, porque não ir mais longe e contratar poetas ao invés de jornalistas?

Além disso, Casoy, afirmou: “A guerra pela audiência é mortal aqui no Brasil... Além disso, a falta de escolaridade de grande parte da população influi no processo de escolha do telejornal a que essa massa vai assistir...” Sim, de fato a educação no Brasil é algo que se arrasta ao longo dos anos e dos governos. E com certeza as mídias brasileiras vêm, cada vez mais, ao estilo neoliberal capitalista, disputando o mesmo espaço na TV.

Porém, a sociedade não precisa sofrer pelos “estilhaços” dessa guerra e muito menos ser tratada como idiota, ao ponto, da notícia ser quase, soletrada e “interpretada”, por um ou outro apresentador de telejornal. Não é necessário que os telejornais acompanhem a “paixão” do povo e se de, de forma novelesca. Muito menos que a imprensa se banalize ou se distancie, definindo-se como meio detentor da intelectualidade, a ponto de tratar a população como “ignorantes absolutos”. Ou seja, pessoas leigas, acríticas, incapazes de avaliar os fatos de maneira analítica.

Em outro momento de sua reposta, Boris Casoy complementou: “De nossa parte, jornalistas, cabe “explicar” a notícia, facilitar o entendimento... O restante é um processo lento...”. Contudo, uma das funções do jornalista é expor os fatos e acontecimentos de maneira clara e imparcial. Ao “explicar” a notícia não estaríamos de alguma forma admitindo a falta de transparência da mídia? E ainda, sob qual ótica, os fatos seriam “explicados”? Se o “restante é um processo lento”, qual a pressa de entendimento? A reflexão, assim como a analise, é um processo lento e necessita de tempo para ser realizado. E afinal, que resto seria este?

Sem conjecturas, podemos afirmar que, o discurso presente na TV hoje, deva realmente ser reavaliado, para que o telejornalismo torne-se realmente um instrumento a ser usado pela sociedade, de informação pública e não de disputas de audiência. Assim como o discurso dos próprios comunicadores responsáveis por este trabalho, de modo a não tratar o público como um mero espectador passivo aos fatos (notícias), mas também como seu construtor.

Como futuro Comunicador, procuro aqui elucidar fatos que talvez ajude-nos (ou pelo menos me ajude), a definir melhor o que somos como tal. Em meio a tantas definições e discursos confusos a única coisa,a qual, posso garantir é: o que não sou e nem o que pretendo ser...

(...No meio de um oceano tão imenso onde perde-se a linha do horizonte de vista, tento apenas encontra meu rumo...) ...E que os bons ventos nos levem!

“...Somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter!...”

Comentários

Miro disse…
assuntos complicados muito bem desenvolvidos...um beijo em você.
Infelizmente é difícil fazer as grandes teles mudarem sua perspectiva de conteúdo se o país tem uma média cultural tão limitada...
Creio que o papel do comunicador é de suma importância para o desenvolvimento do processo de consciência do questionamento do conteúdo programático, mas ele raramente tem espaço para promover sua opinião pessoal em meio a esse contexto.
Apesar dos recentes acordos entre as empresas associadas à ABERT ( Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão), as empresas não tem dado a atenção merecida a esse aspecto, promovendo a concorrência pelo índice de audiência em detrimento da qualidade da programação.

Enfim, é longa a caminhada...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Não saberia dizer se existe uma necessidade de explicação das notícias...
Entretanto, é verdade que boa parte da população não entende bem o que se passa no Congresso, não sabe distingüir as funções dos poderes Judiciário, Executivo e Legislativo, não sabe pra que serve uma Medida Povisória, não sabe como as leis são aprovadas, não tem idéia de por quê o pau está quebrando na França, não entende qual é a importância das cotações de mercado (se é que há, de fato, alguma)... enfim, não reflete sobre tantas coisas.
Talvez isso tudo tenha de ser explicado, sim. Como as coisas tramitam em Brasília, o que a Constituição assegura, o que acontece depois de uma CPI (sem ser a pizza), quem é responsável pelas dívidas externas, como é feita a negociação, qual é o limite das competências de um juiz, de um deputado, de um senador e do presidente.
Isso são coisas que pouco ouvi até hoje das emissoras de TV mais pronunciadas. Nos jornais impressos, como, em geral, prima-se por maior qualidade, vemos maior elucidação de como é a estrutura de poder e de como ela funciona. Este é o tipo de coisa que requer explicações.
Talvez isso fosse função do sistema de educação nacional, como faziam os milicos de antanho.

No entanto, há coisas que não precisam de explicação. Por exemplo, bombas no Iraque, ação antiterrorista mundial, publicação de pesquisas, em especial as eleitorais e científicas, Francenildo falando, Palocci correndo, Ângela Guadanin dançando (um "viva!" aos bons colunistas), divulgação de eventos (para refutá-los ou louvá-los temos a crítica), entrevistas...
Estas coisas requerem uma saudável imparcialidade que possibilite a interpretação do leitor. As entrevistas, por exemplo, são a própria fonte de onde o leitor extrairá suas conclusões.
Mas, cá entre nós, sabemos que tudo isso é impossível, já que tudo virou um jeito de ganhar dinheiro hoje em dia. E a manipulação rende seus proventos.
A liberdade de imprensa é utilizada para ter o que dizer de alguma coisa, seja bem ou mal. Importa que o espectador esteja grudado na tela ou seja um assinante.
Cabe a você, como comunicador, ponderar o fato e a interpretação, sua necessidade ou não.
E, às vezes, a interpretação de um fato é extremamente necessária, pois não temos tempo suficiente para análise e reflexão como sociedade inteira (uma via, talvez, seria remodelar a sociedade, concordo, mas isso seria mais utópico, pouco prático e tristemente descartado pela maioria da mesma sociedade), mas deve-se tomar uma atitude rápida.
Por exemplo, se uma indústria está descartando rejeitos industriais tóxicos num determinado rio, é necessário dizer que estes são tóxicos, fazem mal ao meio ambiente, desestabilizam a fauna e flora local, etc.
Se dissermos simplesmente que a indústria despeja taxas de 9,0 mg/L de chumbo em seus efluentes e nos enrolarmos em detalhes técnicos como resoluções da Feema resoluções do CONAMA, diferenças entre elas... pouca gente vai entender o que tem de relevante na notícia.
Deve-se aliar o conhecimento à responsabilidade social, dizendo os possíveis efeitos do fato, ou fenômeno. Entretanto, as inferências não devem ser pessoais ou encomendadas por grupos que tenham interesse particular na discussão da notícia.
Isso, como diria o Boris Casoy, é que "é uma vergonha".
Beijos mil,
André vhs

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